"QUEREMOS UMA ESCOLA ONDE POSSAMOS NOS MOVIMENTAR” Construindo um currículo ativista de Educação Física como forma de protesto, resistência e significação no Ensino Médio
Nome: MARIA EDUARDA ERLACHER DE FIGUEIREDO
Data de publicação: 27/03/2025
Banca:
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Papel |
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GUY GINCIENE | Examinador Externo |
MARIANA ZUANETI MARTINS | Presidente |
UBIRAJARA DE OLIVEIRA | Examinador Interno |
Resumo: Entre os inúmeros desafios didáticos para construir uma Educação Física (EF) crítica
dentro da escola no Ensino Médio, está a precariedade estrutural que algumas dessas
instituições se encontram. No Espírito Santo, por exemplo, cerca de um quarto das
escolas não possui quadra poliesportiva em condições de uso, o que coloca em xeque
espaços para que o se-movimentar, especificidade da EF, ocorra. Esse é o caso da
escola onde essa pesquisa se realizou, questão aprofundada ainda pelas mudanças
acarretadas pela reforma do Novo Ensino Médio, que alterava a organização do
currículo a cada ano. Considerando esse cenário de instabilidade e de precariedade,
essa pesquisa buscou explorar as possibilidades pedagógicas de co-construir um
currículo para a EF no ensino médio numa escola sem espaços adequados para tal.
Para tanto, nos inspiramos na abordagem ativista da EF, que busca organizar
didaticamente formas de ouvir e responder pedagogicamente os/as estudantes ao
longo do tempo, a fim de co-desenhar aulas e currículo, imaginando de forma
colaborativa outros cenários onde injustiças sociais possam ser identificadas e
desafiadas nas aulas. Desde modo, essa pesquisa ação participativa foi desenvolvida
nos anos de 2023 e 2024, com uma turma de ensino médio na rede estadual do ES.
Como fontes de dados, utilizamos diário de campo, transcrição das reuniões de
reflexão e orientação e os artefatos produzidos pelos alunos/as ao longo da
intervenção. Analisamos os dados por meio da identificação dos pontos de virada
dentro de dois temas principais: i) aprender a escutar os/as estudantes; ii) recoconstruir sentidos da EF com os/as estudantes. Nossos resultados indicam que
explorar possibilidades ativistas para reconstruir a EF com os/as estudantes a partir
do aprendizado da escuta foi fundamental para visualizarmos o problema central que
dificultava a construção de sentido nas aulas: a ausência dos espaços disponíveis
para o corpo em movimento. Uma questão que antes tentávamos driblar, abafando-o
como um problema e naturalizando essa situação, essa questão foi sendo
progressivamente reconhecida como determinante para a baixa participação, o
desinteresse e o ceticismo dos/as alunos/as em relação às aulas. Apenas quando
conseguimos de fato escutar os/as alunos/as, com base em estratégias inspiradas na
abordagem ativista, como rodas de conversa, atividades diagnósticas e avaliações
coletivas, tornou-se possível construir um ambiente seguro, propício ao dialógico e
participativo. Uma vez que esse espaço foi estabelecido, iniciamos a co-construção
do currículo com os/as estudantes, a partir da identificação do problema (espaços) e
a reflexão conjunta do que seria possível fazer diante dele. Como resultado, decidimos
não nos fechar dentro do ambiente fechado da sala de aula, buscarmos espaços
abertos disponíveis, mesmo que precários, e decidirmos o que seria possível
aprendermos a praticar, o que culminou em uma unidade didática com o jogo
“Quadrado”, organizadas em espaços improvisados, mas com alto engajamento,
inspirados no Modelo de Educação Esportiva, mas construído a partir de ouvir e
responder os estudantes ao longo do tempo. A culminância do processo foi marcada
por um campeonato esportivo com mensagens críticas sobre a escola, transformando
o evento em uma manifestação coletiva por melhores condições para. EF.
Aprendemos, assim, que mais do que ensinar sem quadra, é necessário escutar
legitimamente os/as estudantes, tensionar o que foi naturalizado e imaginar, junto com
eles/as, outras possibilidades de fazer EF na escola.