Prevalência de distúrbios gastrintestinais em praticantes de atividade física

Resumo: O impacto da atividade física sobre o trato gastrintestinal é uma área de grande interesse (Lira et al., 2008; Strid et al, 2011; Waterman, Kapur, 2012). Traçando um panorama, a partir de 1980, pesquisadores passaram a investigar os efeitos do exercício físico sobre o trato gastrintestinal por meio de estudos clínicos e epidemiológicos. Foi observado que atividades físicas de endurance (longa duração), como aquelas executadas por maratonistas, triatletas e ciclistas, podem provocar distúrbios gastrintestinais como vômito, náusea, azia, diarréia, cólicas abdominais, perda de apetite, sangramento do trato gastrintestinal, aceleração dos movimentos intestinais e vontade de defecar (Halvorsen et al, 1990; Green, 1992; Butcher, 1993; Sullivan, 1994; Peters et al, 1999a; Peters et al, 1999b; Kondo et al, 2001; Simren, 2002; Lira et al., 2008; Waterman, Kapur, 2012). Por exemplo, a prevalência de diarréia e aceleração dos movimentos intestinais entre maratonistas é de 38% e 53%, respectivamente (Riddoch, Trinick, 1988). A maioria dos estudos referidos na literatura é congruente em afirmar que entre 20 a 50% dos praticantes de atividades de endurance apresentam pelo menos um dos sintomas citados (Gil, 1998; Lira et al., 2008).
A etiologia desses sintomas é multifatorial e inclui a dieta, o fluxo sanguíneo intestinal diminuído, a liberação de hormônios gastrointestinais durante o exercício (Brouns, Beckers, 1993; Gil, 1998; Berg et al, 1999; Morton, Callister, 2000; Waterman, Kapur, 2012), a atividade alterada do sistema nervoso autonômo (Butcher, 1993), a inflamação do trato gastrintestinal (Baska et al, 1990), o estresse mecânico sobre o trato gastrintestinal (Peters et al,1995), a idade (Worobetz, Gerrard, 1985), o sexo (Sullivan et al, 1994), a desidratação (van Nieuwenhoven et al, 2000), os fatores psicológicos (Halvorsen, Ritland, 1992) e a intensidade do esforço físico (van Nieuwenhoven et al, 2004; Strid et al, 2011).
Durante o exercício físico intenso, por exemplo, a diminuição do fluxo sanguíneo intestinal pode chegar a 80% (Berg et al, 1999) sendo que durante uma caminhada em esteira, com inclinação, essa redução gira em torno de 40% (Quamar, Read, 1987). Enquanto no repouso, 90% do fluxo sanguíneo para o intestino é dirigido para a mucosa (Chou et al, 1978), no exercício a 70% do consumo máximo de oxigênio a diminuição do fluxo sanguíneo intestinal gira em torno de 60 a 70%, sendo, portanto, essa região a mais comprometida pela redução do fluxo sanguíneo durante o exercício físico (Berg et al, 1999). Essa redução é decorrente da vasoconstrição do leito vascular esplâncnico pela ação de catecolaminas sobre receptores -adrenérgicos via sistema nervoso simpático (Granger et al, 1980). Esta estimulação aumenta o fluxo sanguíneo para os músculos ativos e para a pele (para termoregulação), enquanto mantém o fluxo sanguíneo para o cérebro e coração (Clausen, 1977). Em conjunto, todas essas alterações podem contribuir para o surgimento dos distúrbios gastrintestinais.
O estresse mecânico sobre o trato gastrintestinal produzido pelo impacto proporcionado pelo exercício físico pode contribuir para o desenvolvimento de distúrbios gastrointestinais. De fato, a frequência desses distúrbios é aproximadamente duas vezes maior durante a corrida em comparação com o ciclismo e a natação, onde os impactos são bem menores (Sullivan, 1987; Rehrer, Meijer, 1991; Peters, 1995).
A desidratação é comum durante eventos de longa duração, onde os corredores evitam ingerir fluido devido à dificuldade de beber enquanto correm e pelo desconforto estomacal. A desidratação reduz o volume sanguíneo, agravando a redução do fluxo sanguíneo intestinal durante o exercício físico. Rehrer et al (1989 e 1990) verificaram que a perda de 3,5 a 4,0% do peso corporal durante o exercício está associada ao aumento da incidência de distúrbios gastrintestinais.
Outras causas para o aparecimento de distúrbios gastrintestinais incluem hipertrofia do músculo psoas, que pode causar pressão contra o cólon e estimular o aumento da motilidade e defecação, a dieta, a ingestão de café, o suco de laranja, as comidas gordurosas e/ou as quantidades elevadas de proteínas, a vitamina C, a ingestão de bebidas hipertônicas e de alimentos ricos em fibras e os fatores psicológicos (Narducci et al, 1985; Riddoch, Trinick, 1988; Waterman, Kapur, 2012).

Data de início: 01/03/2013
Prazo (meses): 24

Participantes:

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Colaborador RODRIGO LUIZ VANCINI
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