Sumario: A hemofilia é uma doença hemorrágica congênita causada pela perda do fator de coagulação VIII (hemofilia A) ou IX (hemofilia B). O quadro clínico das hemofilias A e B é semelhante e evidenciado por episódios hemorrágicos. Estes episódios podem surgir espontaneamente ou após traumas, que variam em função da atividade residual coagulante do fator VIII ou fator IX, que determina a gravidade da doença. Estes episódios hemorrágicos recorrentes levam à sinovite e subsequentemente à artropatia hemofílica, que pioram as estruturas articulares. A artropatia hemofílica é caracterizada pela manifestação de dor, fraqueza muscular, artrofia muscular e inatividade física, que afeta a capacidade funcional. Como consequência, estas alterações articulares provocam prejuízos no padrão locomotor de pessoas com hemofilia, tais como, menor amplitude de movimento no tornozelo e no joelho na fase de retirada do pé do solo e na fase de balanço, que provocam um aumento na cadência e redução na velocidade do passo. Este prejuízo no desempenho locomotor podem fazer que stes pacientes podem apresentem limitações funcionais em ultrapassar um obstáculo, que pode comprometer o desempenho da realização das atividades diárias, que afeta a qualidade de vida desta população. Entretanto, ainda não foi investigado quais são as alterações no padrão locomotor de pessoas com hemofilia com artropatia. A reabilitação com exercício físico pode ser um fator protetor contra o comprometimento da articulação em pessoas com hemofilia. Em relação à análise do padrão locomotor e intervenção motora com exercícios físicos em pessoas com hemofilia, surgem algumas lacunas na literatura, como por exemplo, estas intervenções motoras englobam exercícios com foco apenas em um componente da capacidade funcional (ex. força, capacidade aeróbia). A artropatia hemofilíaca causa prejuízo no padrão locomotor e ainda não foram investigados o efeito de um programa com exercícios físicos multicomponentes com foco na amplitude de movimento, na força e em movimentos combinados (ex. andar e pegar um objeto) no padrão locomotor de pessoas com hemofilia, amplamente utilizado nas atividades diárias. A redução na amplitude de movimento afeta o padrão locomotor de pessoas com hemofilia com prejuízo na estabilidade dinâmica, que pode ocasionar alguns episódios de quedas, com consequente redução na qualidade de vida. Com base nestes pressupostos, é importante incluir exercícios locomotores combinados com força muscular e amplitude de movimento das articulações do quadril, joelho e tornozelo com objetivo de melhorar a deambulação em pessoas com hemofilia com melhora da qualidade de vida. Este estudo apresenta algumas questões importantes de pesquisa: Quais são as alterações no padrão locomotor de pessoas com hemofilia durante a ultrapassagem de obstáculos? Uma intervenção motora com foco na amplitude de movimento, força e atividades locomotoras em ambientes irregulares pode melhorar a estabilidade dinâmica durante a ultrapassagem de obstáculos e na qualidade de vida em pessoas com hemofilia? O objetivo geral deste projeto será investigar o efeito de um programa de treinamento com exercícios multicomponentes (amplitude de movimento, força muscular e atividades locomotoras) na estabilidade dinâmica durante a ultrapassagem de obstáculos e na qualidade de vida de pessoas com hemofilia. Participarão deste estudo 50 indivíduos que serão distribuídos em dois grupos: Grupo Treinamento e Grupo Controle. Ambos os grupos serão composto por 25 pessoas com hemofilia (idade entre 18 e 55 anos). Os participantes serão recrutados na Grande Vitória, Espírito Santo. Este recrutamento será realizado por meio de divulgação nas Unidades Básicas de Saúde, HEMOES, na internet, cartazes e folhetos espalhados pela cidade. As avaliações pré e pós treinamento serão realizadas no Laboratório de Análise Biomecânica do Movimento (Bio.Mov) no Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Espírito Santo (CEFD/UFES). Estas avaliações serão realizadas em dois dias. No primeiro dia, a condição clínica dos participantes será avaliada por meio das seguintes baterias de testes: 1) Pontuação de Saúde das Articulações para Hemofilia para investigar a condição articular, 2) FISH para avaliação do desempenho funcional frente as atividades do cotidiano, tais como, cuidados pessoais, transferências e locomoção, 3) A36 Hemofilia para avaliação da qualidade de vida. No segundo dia, as medidas antropométricas [estatura (m), massa corporal (kg) e índice de massa corporal (kg/m2)], amplitude de movimento (ADM) e o padrão locomotor de todos os participantes serão avaliados. O método de registro das mensurações será baseado em uma escala de 0 a 180 graus. Para análise do padrão locomotor, os participantes serão convidados a percorrer uma passarela nas condições de marcha livre e nas condições com obstáculo. Na condição de marcha livre, os participantes serão instruídos a andar em sua velocidade preferida até o final da passarela. Na condição com obstáculo, os participantes serão instruídos a andar em sua velocidade preferida, ultrapassar o obstáculo posicionado no meio do percurso e andar até o final da passarela. Um sistema para análise de movimento tridimensional, constituído por 6 câmeras de vídeo infravermelho será utilizado para análise do centro de massa e análise do padrão locomotor com uma frequência de coleta de 200 Hz. As sessões de treinamento acontecerão duas vezes por semana durante 3 meses, totalizando 24 sessões. O objetivo deste treino é trabalhar exercícios locomotores e posturais envolvidos na realização das atividades diárias em pessoas com hemofilia. As variáveis analisadas serão: parâmetros espaço-temporais (comprimento, velocidade, duração e largura do passo), controle da estabilidade dinâmica, estratégias locomotoras (distância horizontal pé-obstáculo antes e após a ultrapassagem do obstáculo), desempenho nas escalas clínicas e amplitude de movimento das articulações do quadril, joelho e tornozelo. A fim de verificar possíveis diferenças entre os momentos (pré e pós treinamento) e as condições experimentais, testes de multivariância serão utilizados, com um nível de significância de p≤0,05. Espera-se que após o programa de treinamento, as pessoas com hemofilia apresentem maior comprimento, velocidade e menor largura, duração do passo, maior amplitude de movimento e controle da estabilidade dinâmica, maior pontuação nas escalas clínicas. Com o aumento nestes parâmetros, as pessoas com hemofilia apresentem melhora no padrão locomotor e na amplitude de movimento que impacta de uma forma positiva para realização das atividades diárias com mais segurança e menos histórico de dor com efeito positivo na qualidade de vida.

Fecha de início: 14/06/2023
Plazo (meses): 72

Participantes:

Papel	Nombre
Coordinator *	NATALIA MADALENA RINALDI