Sumario: O envelhecimento populacional e a urbanização são duas das maiores transformações sociais do século XXI. A população de pessoas idosas está aumentando devido ao avanço dos cuidados de saúde, serviços médicos e aumento da expectativa de vida (Khoddam et al., 2020). Até 2050, 20% da população mundial terá mais de 65 anos, com projeções de que 80% das pessoas idosas viverão em países de baixa/média renda. Este é um cenário bem desafiador e que sem dúvida perpasse pela organização do funcionamento das cidades/ambientes urbanos e que precisa ser trabalhado na perspectiva do conceito de “Envelhecimento Ativo” da Organização Mundial da Saúde - OMS (Dogra et al., 2022).
É preciso destacar que o “Envelhecimento Ativo” é definido pela OMS como o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, a fim de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem. Permite que as pessoas realizem seu potencial de bem-estar ao longo de suas vidas e participem da sociedade de acordo com suas necessidades, desejos e capacidades, proporcionando-lhes proteção, segurança e cuidados adequados quando precisam de assistência (Barbabella et al., 2022). Sem dúvida exercer todo este potencial perpasse pela interação de dois conceitos importantes para melhorar a qualidade de vida e inclusão social das pessoas idosas, o de “Cidade Amiga da Pessoa Idosa” e “Envelhecimento Ativo”, ambos da OMS. No entanto, a literatura científica mostra que as principais áreas de intervenção dos formuladores de políticas públicas, para as pessoas idosas, diziam respeito à participação no mercado de trabalho, aprendizagem ao longo da vida, desigualdades sociais e econômicas, saúde e bem-estar. Pouco atenção foi dada a questões como gênero e igualdade de oportunidades e cidades sustentáveis e amigas da pessoa idosa (Barbabella et al., 2022).
A OMS tem um projeto global de implementação da “Cidade Amiga da Pessoa Idosa” (Khoddam et al., 2020), pois cidades sustentáveis e inclusivas e suas respectivas comunidades são fundamentais para que pessoas sejam mais longevas e saudáveis e tenham maior qualidade de vida (Khoddam et al., 2020; World Health Organization, 2023). Neste contexto, os gestores e formuladores de políticas de planejamento urbano e prestadores de serviços de saúde precisam considerar o ponto de vista da pessoa idosa para melhorar as características urbanas e favorecer a criação de “Cidades Amigas da Pessoa Idosa” (Khoddam et al., 2020), pois os custos econômicos para manutenção do ecossistema das cidades será enorme num mundo envelhecido (Lee & Mason, 2017).
A expressão “Cidade Amiga da Pessoa Idosa” vem sendo utilizado para se referir na criação de um ambiente urbano inclusivo e acessível, que promova o bem-estar e a saúde plena de pessoas de todas as faixas etárias. Isto envolve projetar cidades e comunidades que apoiem as necessidades físicas, de mobilidade, sociais e emocionais das pessoas mais velhas. Além disso, é importante criar ambientes que permitam as pessoas levarem uma vida independente (com poder de executar ações) e autônoma (com poder de tomar decisões). É importante destacar que a visão da “Cidade Amiga da Pessoa Idosa” é baseada em pesquisas e evidências multidisciplinares, incluindo a gerontologia (Medicina, Enfermagem, Psicologia, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Educação Física etc.), o planejamento urbano (Engenharia, Economia, Arquitetura, Administração etc.), saúde pública, políticas sociais etc. (Khoddam et al., 2020; Lopes et al., 2021; Plouffe & Kalache, 2010; Reuter et al., 2020; World Health Organization, 2017, 2023).
De acordo com a OMS, para que uma cidade seja considerada amiga da pessoa idosa é preciso considerar os seguintes aspectos da vida urbana: acesso a espaços ao ar livre e edifícios; transporte; habitação; participação social; respeito e inclusão social; participação cívica e emprego; comunicação e informação; e apoio comunitário e serviços de saúde. Isto sem dúvida é um guia valioso para a criação das políticas de planejamento e saúde urbano (Plouffe & Kalache, 2010) e que perpassam pelo uso de tecnologias.
Ao longo das décadas, o uso de tecnologia/inovação tornou-se essencial para a organização das sociedades e cidades contemporâneas e futuras e do ambiente urbano e também para quem está afastado do grandes centros, e ainda mais imperativa à medida que as décadas avançam, visto que estamos quase na terceira década do século XXI (Marston & Hoof, 2019). Só para se ter uma ideia, recentemente, apenas 16 cidades brasileiras receberam o selo de certificação internacional por atender aos requisitos estipulados pela OMS quanto a ser uma “Cidade Amiga da Pessoa Idosa”. Entre os Estados da Federação, temos Rio Grande do Sul (com 3 cidades), Paraná (com 13), Santa Catarina (com 1) e São Paulo (com 2) (Lopes et al., 2021).
A “Cidade Amiga da Pessoa Idosa” deve priorizar a criação de espaços físicos seguros, acessíveis e projetados tendo em mente as necessidades das diversas faixas etárias do “espectro do envelhecimento” que vai do idoso adulto jovem (60 anos) até o idoso adulto muito velho (mais de 85 anos). Isso inclui espaços públicos que incentivam a interação social; áreas de lazer para a prática de atividade física; acesso a cuidados de saúde de qualidade e serviços de apoio; faróis com tempo adequado para travessia; calçadas bem conservadas, niveladas e sem buracos para caminhadas seguras etc. (World Health Organization, 2017, 2023).
Por exemplo, os benefícios físicos e psicológicos da caminhada e mobilidade pelas cidades para a saúde já estão bem estabelecidos entre as pessoas idosas. No entanto, caminhar pela cidade pode resultar em um risco aumentado de lesões e quedas (pedestres com mais de 60 anos na beira da estrada e guias), o que é um risco maior para as pessoas idosas, com menor capacidade funcional e mobilidade física, que são as maiores vítimas. A acessibilidade das áreas de travessia/cruzamento de pedestres precisa ser abordada, garantindo tempo suficiente para atravessar e tempo de espera não restritivo quanto aos faróis. Isso não acontece. As travessias sinalizadas precisam ser simplificadas e com visibilidade aumentada. Onde não há local de travessia designado (farol de travessia), é necessária uma redução no limite de velocidade juntamente com o fornecimento de ilhas de pedestres para fornecer locais de pausa. Programas educacionais também podem ajudar a garantir a segurança de pessoas idosas onde não há local de travessia designado e mobilidade adequada de forma a criar uma “Cidade Amiga da Pessoa Idosa” (Wilmut & Purcell, 2022). Um estudo feito na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo constatou que 97,8% das pessoas idosas da cidade de São Paulo não conseguem caminhar a 4,3 km/h, velocidade exigida pelo padrão apresentado pela Companhia de Engenharia de Tráfego para os semáforos da cidade. Na média, a velocidade alcançada pelos voluntários com mais de 60 anos que participaram do estudo foi bem menor que o exigido, ou seja, apenas 2,7 km/h (FAPESP, 2017). Isto é bem preocupante por conta dos riscos de acidentes com quedas e consequentes fraturas.
A organização da cidade associada com tecnologia, na concepção de “Cidades mais Amigas da Pessoa Idosa”, pode incluir a oferta de dicas visuais e de áudio e tempos de travessia adequados de faróis, ou seja, tempos de estabelecidos de acordo com a capacidade funcional de cada faixa etária; boa iluminação pública; elevadores e rampas acessíveis; paradas e estações de transporte estão convenientemente localizadas, acessíveis, seguras, limpas e bem iluminadas; informações acessíveis aos usuários sobre rotas, horários, instalações para necessidades especiais; os táxis são visíveis e acessíveis; locações públicas e comerciais são limpas, bem mantidas e seguras; boas informações sobre atividades e eventos são fornecidas, incluindo detalhes sobre acessibilidade de instalações e opções de transporte; sistema de comunicação básico e eficaz atinge residentes da comunidade de todas as idades; informações impressas - incluindo formulários oficiais, legendas de televisão e texto em exibições visuais - têm letras grandes e as ideias principais são mostradas em títulos claros e em negrito; comunicação impressa e falada usando palavras simples e familiares em frases curtas e diretas; serviços de atendimento telefônico fornecendo instruções de forma lenta e clara; equipamentos eletrônicos, como telefones celulares, rádios, televisões e caixas eletrônicos de bancos e bilhetes, possuem botões grandes e letras grandes; amplo acesso público a computadores e à Internet, sem custo ou com custo mínimo, em locais públicos, como repartições públicas, centros comunitários e bibliotecas; e instalações de saúde e serviços comunitários são construídas com segurança e totalmente acessíveis (Marston & Hoof, 2019). Muitas destas funções e serviços podem ser levados e concebidos por meio da ideação e criação de Aplicativos (Apps).
No entanto, a questão é como monitorar a qualidade destes processos num cenário tão grande e diverso como uma cidade? Ou seja, é preciso um sistema que seja retroalimentado com informações e dados em tempo real para que os ajustes necessários sejam feitos de forma rápida e assertiva. Como isso pode ser feito? Uma das formas é através da criação de soluções tecnológicas, como a criação de Apps, de monitoramento e diagnóstico da “Cidade Amiga da Pessoa Idosa”. O aumento do uso da tecnologia entre/pelas pessoas idosas, como um App para monitorar a qualidade da marcha no dia a dia e interação dinâmica com a cidade, pode ajudar na construção de “Cidades mais Amigas da Pessoa Idosa” (Zhong & Rau, 2020). Ou seja, os usuários dos serviços da cidade podem ajudar a construir um ambiente mais favorável.
Quanto aos serviços de saúde, a “Cidade Amiga da Pessoa Idosa” deve priorizar a disponibilidade de instalações de saúde, serviços de atendimento domiciliar e informações acessíveis sobre recursos relacionados à saúde. Isso garante que as pessoas possam acessar facilmente os cuidados de que precisam e manter sua saúde e bem-estar. Isto sem dúvida, atualmente, perpassa pelo uso de tecnologias também. Para isso, existe a necessidade da inserção das tecnologias digitais para a construção de “Cidades mais Amigas da Pessoa Idosa”, quanto ao acesso aos serviços de saúde, para aumentar o escopo da acessibilidade/escalabilidade e oportunidades de exercício de cidadania digital e mais inclusiva quanto aos cuidados em saúde (Reuter et al., 2020). Para que isso ocorra é necessário um sistema de transporte confiável e acessível para as pessoas idosas manterem a mobilidade física – e que propicie baixos riscos de acidentes e quedas e com consequentes fraturas; e incentive a participação/interação social. Um dos tipos de violação de direitos sociais, seja de forma direta e/ou indireta, contra a pessoa idosa, por exemplo, é a falta de transporte público acessível. Isto isola as pessoas que não tem acesso a meios de locomoção/transporte de diferentes tipos, sejam passivos e/ou ativos, em suas casas e dificulta a participação na vida da comunidade, aumentando o risco de isolamento social e solidão, o que aumentou o risco de desenvolvimento de depressão (Taylor et al., 2018) e as taxas de suicídio em meio a pandemia do coronavírus entre as pessoas idosas (Sher, 2020).
Neste contexto, incentivar o transporte ativo é uma forma econômica e acessível que facilita a mobilidade e melhora os índices de saúde e a qualidade de vida das pessoas idosas em suas comunidades. Para isso, as “Cidades mais Amigas da Pessoa Idosa”, devem incentivar a prática de atividade física, ou seja, “as pernas como meio de transporte” e a participação social através da criação de ambientes com maior acessibilidade e inclusivos. Isto perpassa não só pelo transporte público através de ônibus e carros, mas também pelo transporte ativo (caminhada, ciclismo etc.) (Klicnik & Dogra, 2019). No entanto, a inatividade física e o tempo sedentário são particularmente elevados em pessoas idosas, apresentando desafios únicos de saúde pública e que sem dúvida perpassam pelo amento de possibilidades de transporte ativo (Dogra et al., 2022) para a melhora da qualidade de vida. É só observar o entorno. Um exemplo claro disso é o aumento e investimento em ciclofaixas no Brasil.
Por outro lado, quando o transporte está disponível e adaptado às necessidades das pessoas idosas melhora sobremaneira a mobilidade física e facilita a participação social e o sentimento de pertencimento na comunidade. Isto aprimora muito a qualidade de vida e a saúde física e mental. É igualmente importante que as pessoas idosas mantenham a motivação intrínseca e extrínseca para sair de casa e participar socialmente. Sendo assim, dar acesso à cultura, ao entretenimento, ao lazer e às práticas de atividades físicas e às oportunidades de voluntariado ou de engajamento social contribuem para uma velhice com maior bem-estar físico e mental (World Health Organization, 2017).
Sendo assim, a implementação de políticas e práticas amigas da pessoa idosa nas cidades pode contribuir para uma maior qualidade de vida pois, pode melhorar as conexões sociais e a satisfação geral com ambiente/entorno, criando comunidades mais inclusivas e acessíveis para todos. Isso aumenta a probabilidade de estilos de vida mais ativos fisicamente e oportunidades de interação social, que são cruciais para manter a saúde física e mental. Para avaliar, diagnosticar e monitorar tudo isso é bem mais assertivo e escalável usar e desenvolver tecnologias. É interessante destacar que a OMS, do ponto de vida saúde mundial, vem desenvolvendo uma série de Apps para ajudar dar suporte problemas específicos no campo da saúde pública (Applications WHO, 2023). Isto denota a importância do desenvolvimento de soluções com aplicação local no campo da saúde pública para termos a possibilidade de “Cidades mais Amigas da Pessoa Idosa”.
Justificativa
De acordo com a OMS, a “Cidade Amiga da Pessoa Idosa” promove a saúde e é projetada para diversidade, inclusão e coesão e permite que elas permaneçam ativas econômica, social e culturalmente. Uma “Cidade Amiga da Pessoa Idosa” deve fomentar a solidariedade entre gerações, facilitando as relações sociais intergeracionais. A “Cidade Amiga da Pessoa Idosa” também têm mecanismos para ajudar as pessoas em risco de isolamento social, quedas ou violência por meio de esforços personalizados (World Health Organization, 2023). Sendo assim, nosso propósito é a concepção e ideação de um App, tendo por base conceitos de gamificação e inteligência artificial (IA), chamado de “Cidade Parceira da Pessoa Idosa”. O App será construído e alinhado com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da agenda 2030 da ONU (Organização das Nações Unidas, 2023), o sólido conceito de “Envelhecimento Ativo” da OMS (Barbabella et al., 2022) e com política e titulação, aprovada recentemente pelo Senado do Brasil (21/03/2023), chamada de “Cidade Amiga do Idoso” (Agência Senado, 2023). Ou seja, com a sustentabilidade a nível global tanto do ponto de vista do meio ambiente como de nós humanos.

Fecha de início: 09/06/2023
Plazo (meses): 48

Participantes:

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Coordinator * RODRIGO LUIZ VANCINI
Transparência Pública
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